CONVERGÊNCIAS MÍTICAS EM ERA UM POAIEIRO: UM DIÁLOGO COM CATULO/MYTHICAL CONVERGENCES IN ERA UM POAIEIRO: A DIALOG WITH CATULO
Resumo
Baseado principalmente nos estudos de Eleazar M. Mielietinski, pretende-se neste estudo, fazer uma releitura da obra mato-grossense Era um Poaieiro de Alfredo Marien, sob o viés da mitologia. O crítico interliga os conceitos de literatura e mitologia ao reconhecer a possibilidade da construção literária a partir de modelos míticos, possibilitando assim, a reinterpretação de alguns elementos da mitologia clássica em obras posteriores, elementos estes, que relacionam contextos de criações totalmente diferentes, sem que essa disposição prejudique a originalidade dos autores. Sabe-se que a obra é fruto da vivência do autor como poaieiro no interior do estado de Mato Grosso e, influenciado pela riqueza das narrativas orais ali difundidas, escreveu seu único livro, publicado pela primeira vez em 1944. Para tal, foi necessário utilizar-se de um recorte que compreende, dentro da obra do autor francês, o casal de personagens Brasilino e Tereza, o Pé de Garrafa como símbolo dos perigos imanentes do espaço da narrativa, além da própria floresta como projeção arquetípica do labirinto. Da mitologia emprestamos os personagens mitológicos Teseu e Ariadne e as relações destes com o Minotauro e seu labirinto, tendo como ponto de confluência literária o poema LXIV do italiano Caio Valério Catulo. Ambos os autores, Catulo e Marien, constroem os personagens protagonistas baseados no mito clássico, sendo que os personagens de Marien estão inseridos em um contexto específico regional do Brasil na década de 1930, o apogeu da poaia em Mato Grosso. Trata-se de um posicionamento engajado do autor, que denuncia as condições insalubres de vida dos sertanejos que tanto geraram riquezas para o Estado, mas ficaram à margem da história.
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