O uso da concordância nominal de gênero no falar da comunidade cacerense no Alto Pantanal de Mato Grosso

Resumo

Este artigo apresenta um cruzamento de dados apresentados nas pesquisas de Karim (2004; 2012), que investigaram a variação na concordância nominal de gênero na fala da comunidade de Cáceres, no Alto Pantanal de Mato Grosso. Essa compilação de dados, neste novo artigo, se justifica pela importância de destacar a coexistência do uso do padrão gramatical, conforme as normas da gramática normativa e do padrão cacerense, com a ausência de concordância de gênero que se manifesta no falar da comunidade cacerense em situações distintas. A partir de entrevistas com 36 falantes nativos, a análise sociolinguística identificou fatores condicionantes dessa variação, como idade, escolaridade e situação comunicativa. Os dados indicam que o uso do padrão gramatical no falar dos entrevistados é predominante entre jovens (85%) e indivíduos com ensino superior (90%), sugerindo forte influência da escolarização e do contato com normas formais. Em contrapartida, o uso do padrão cacerense, caracterizado por variação na concordância de gênero, é mais frequente entre falantes acima dos 50 anos (55%) e com menor escolaridade (50%), refletindo a oralidade e a identidade cultural local. Os resultados evidenciam um processo gradual de mudança linguística, no qual a norma-padrão ganha espaço sem eliminar completamente as variantes regionais. Esses resultados mostram, ainda, como a relação dos fatores socioeconômicos e culturais cria condições para conservação de usos peculiares e traços antigos da língua portuguesa trazida pelos colonizadores da região. A conservação desses traços pode ser explicada pelo longo período de isolamento que a região de Cáceres passou em relação aos grandes centros urbanos do Brasil.