DA TOCA DE BEBÊ SEM CABEÇA À CABEÇA DE BEBÊ SEM TOCA: UM PERCURSO DE LEITURA EM COMPANHIA, DE SAMUEL BECKETT
Resumo
Na fronteira entre a progressão narrativa e a repetição, a prosa e a poesia, a
performance teatral e o texto escrito, Samuel Beckett publica em 1980 Companhia, dos seus
últimos textos. Ser companhia, fazer companhia para alguém, ter a companhia de outrem, ou
ainda, fazer parte de uma companhia: o título aponta dois caminhos de leitura neste texto cuja
radicalidade da abertura e saída de gêneros textuais definidos engendra a desorientação. São
eles o apelo ao ato, ali fundado na enunciação de um alguém impessoal, e a relação com o
outro, tão necessária quanto problemática. A narrativa mínima de uma voz que chega a
alguém no escuro desvia do uso de nomes próprios, identidades bem delineadas, para criar
uma interação entre lugares de fala ancorados na generalidade das 2° e 3° pessoas do discurso.
A 1ª pessoa constitui o lugar de desejo de um sujeito radicalmente descentrado, múltiplo e
horizontal, espoliado de uma singularidade que surgisse do conflito e não da soma de
alteridades. O eu banido, uma espécie de ética que o condenasse à “última pessoa”. Esta
leitura de Companhia se interessará especialmente pela investigação sobre a prosa
contemporânea, suas estratégias de subjetivação e em como se insere o discurso do eu.
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