NA PELE (2020), DE LUCIENE CARVALHO: AS PULSAÇÕES POÉTICAS DE UM CORPO NEGRO, ARTEIRO E FECUNDO / IN SKIN (2020) BY LUCIENE CARVALHO: THE POETIC PULSES OF A BLACK BODY, ARTEIRO AND FECUND
Resumo
Esta abordagem propõe um diálogo poético com o livro Na pele [1], de Luciene Carvalho[2]. Com uma linguagem que encanta pela configuração simples, a poeta nos conduz às questões existenciais que versam sobre os labirintos do corpo negro em sua essência de mulher, marcada por rituais político-ideológicos que tatuam na pele os conflitos socioculturais que impulsionam à reflexão sobre o lugar da figura feminina no mundo contemporâneo. É com/no mundo corpóreo, difuso e múltiplo que a escritora transporta-nos a transubstanciar a vida na/pela poética do corpo, de modo a diluir a tatuagem impregnada na pele, por intermédio de palavras expressas por vozes poéticas combativas, precisas e necessárias. Palavras que jorram do jeito próprio de lidar com as aporias existenciais, dimensiona a condição corpórea e amplia o sentido de ser do/no corpo. Corpo que fala, que dialoga, que se autoconhece e que se descobre nos versos, ser que se doa pelas/nas pulsações de uma poesia feita de carne e pele, em porções de vidas que escorrem palavras. O orgânico cultural do estado poético, em Luciene, tem respirações, medos, coragens, lágrimas e desafios, que se faz no tecido de uma vida sofrida, que nega o mundo opressor, clama por outro possível, constituído pela/na poética do próprio corpo. São poemas que provocam silêncios que gestam vozes adormecidas, que permitem ao eu poemáticoe ao leitor a viagem regressa, por meio de vozes que não querem mais calar e, assim, falam em si, como diria Maurice Merleau-ponty (1999), uma “fala constituída” de fecundidade e de coragens.Downloads
Referências
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