Corpo, mar, mensagem e garrafa – Quarto de despejo (1960) de Carolina Maria de Jesus e as reações a partir da escrita

Resumo

Este artigo tem como objetivo a análise de alguns momentos de tensão vividos por Carolina Maria de Jesus e seus vizinhos, mais especificamente relacionados aos efeitos da escrita do diário Quarto de despejo – diário de uma favelada (1960) que tem, no ano de seu lançamento, uma grande repercussão em todo o país. A escritora, moradora da favela do Canindé, em São Paulo, revela nas páginas do diário a sua vida em um ambiente socialmente excluído, o próprio lugar onde se despejam os descartes, como bem explica o título da obra. Carolina é uma escritora crítica e produz uma literatura diversa com romances, provérbios, poemas e o próprio diário que a acompanha durante um período de sua vida. Em muitos de seus escritos, a autora aborda sobre as consequências da escrita em seu corpo: ela precisa lidar com sentimentos contraditórios relacionados ao fato de ser reconhecida como escritora na sociedade onde vivia. Desse modo, com base nos estudos de Lejeune (2008) e Didier (1996) acerca dos sentidos da produção de diários, quer fiquem escondidos em gavetas, quer sejam revelados ao público, analisaremos o contexto de publicação do primeiro livro de Carolina Maria de Jesus, onde são desconsideradas as consequências da escrita nos corpos da população marginalizada, neste caso, a autora e as pessoas que faziam parte de sua vida na época.