Oralituras e escrevivências por uma educação decolonial

Resumo

O artigo foi escrito para compor o Colóquio Corpo e Escrita. Partindo desse tema, trazemos aqui uma reflexão sobre a inclusão de duas expressões próprias da cultura negra que unem corporeidade e escrita, sendo elas a oralitura e a escrevivência. A oralitura, conceito de Leda Martins, por si só resgata as possibilidades narrativas das do corpo, entendendo oralidade ao lado das danças, ritos e performances, enquanto a escrevivência, a partir de Conceição Evaristo, inaugura um pensamento sobre a escrita literária que inscreve a agência do sujeito negro em coletividade. Entendemos que ambas as expressões já são parte da cultura brasileira e deveriam ser incorporadas aos currículos escolares, não apenas por se tratarem de conhecimentos de povos africanos e afro-brasileiros - o que em si já promoveria justiça curricular - mas também por trazerem dessas culturas valores civilizatórios que podem nos ajudar a superar os limites da educação tradicional mais cartesiana e produzir educação integral. Assim, o artigo em questão vai abordar a iminência dos conhecimentos da “oralitura” e “escrevivência” como conceitos emergentes para saberes que já são fundamentais em nossa cultura, mas que não têm espaço suficiente na formação escolar básica que é ainda tão marcada pelas práticas fragmentadas disciplinares que separam escrita de vivência a medida em que separam corpo de mente e oralidade de escrita. Ao tratar dessa temática, estamos de acordo ainda com o movimento de educação antirracista que parte da lei 10.639/03. Dessa forma, temos como objetivo contribuir para a decolonização dos currículos escolares a partir de uma educação de fato integral onde cabem corpos, afetos, saberes e performances.