VIAGEM DE MEU IRMÃO ALEXIS NA TERRA DA UTOPIA CAMPONESA (1920). ALEKSANDER TCHAIÁNOV E AS RAÍZES DA UTOPIA NA LITERATURA RUSSA DO SÉCULO XX

Resumo

O objetivo desse artigo é oferecer ao leitor e à leitora um breve apanhado histórico do desenvolvimento do gênero utópico da literatura russa, a partir do início do século XIX, até a assim chamada “utopia camponesa” de Aleksander Tchaiánov. Personalidade complexa e multifacetada, Tchaiánov foi economista, sociólogo, antropólogo social, fundador dos estudos camponeses interdisciplinares (Крестьяноведение), utopista e escritor de ficção científica. A utopia camponesa de Tchaiánov é herdeira de uma tradição utópica que exalta a pessoa e não a comunidade: a Nova Atlântida (1627), de Francis Bacon, o relato da “Abadia de Thélème”, em Gargantua e Pantagruel (1542), de François Rabelais, e News from Nowhere (1890), de William Morris, são os palimpsestos da obra de Tchaiánov, uma utopia rural que antecipa algumas noções inspiradoras para a futura Nova Política Econômica da União Soviética. A utopia camponesa do escritor russo nasce naquele clima de subversões e renovamentos em que tinha mergulhado a Rússia dos anos 20 e testemunha a forte necessidade de reformas nacionais no âmbito social. O relato utópico de Tchaiánov finaliza com um imprevisto: o espectro da antiutopia, isto é, do reconhecimento da falência da aspiração utópica se materializa e transforma o locus amoenus da utopia  em desencanto.