VIVENDO A TENSÃO ENTRE DISTOPIA E UTOPIA: REFLEXÕES SOBRE UM MUNDO PANDÊMICO EM UM GENTIL LADRÃO DE MIA COUTO
Palavras-chave:
Objetos, Produção de Sentido, Ambiente e Horizonte, Valores Distópicos, Valores UtópicosResumo
Este artigo tem como objetivo a análise de um conto de Mia Couto, intitulado de “O gentil ladrão”, publicado em 2020, durante o auge do período pandêmico, como parte de um conjunto de contos que fazem parte d’O Projeto Decamerão, uma iniciativa do New York Times Magazine. Partimos de duas premissas: 1) há alguns objetos na história que estão em interação com as personagens, construindo sentidos para ambos; 2) esses sentidos estão permeados por valores distópicos e utópicos, que podem ser revelados no momento do aparecimento e utilização desses objetos pelas personagens. Analisamos três objetos que aparecem no conto: uma porta, uma pistola e uma televisão velha. Como resultado, observamos um deslocamento de valores distópicos para uma possibilidade utópica. A porta divide dois mundos distópicos e traz consigo o medo da morte pelo desconhecimento do que vai ser encontrado do outro lado; a pistola desloca o sentido distópico para a insegurança em relação ao outro; por fim, a televisão velha coloca em perspectiva a possibilidade futura de uma humanidade talvez mais humanizada retomando valores utópicos deixados de lado pelas sociedades hiper neoliberais contemporâneas.