O SILÊNCIO DE BACON NA REPRESENTAÇÃO DAS ESTRUTURAS SOCIOPOLÍTICAS DA NOVA ATLÂNTIDA

Resumo

Este estudo tem por objetivo analisar a relação entre o aspecto fragmentário da Nova Atlântida, de Francis Bacon, e a representação das estruturas sociopolíticas de sua ilha utópica por meio da leitura do relato que o narrador apresenta da Festa da Família, uma cerimônia oferecida pelo Estado ao patriarca capaz de gerar trinta filhos ou mais. Primeiramente, discuto o aspecto fragmentário  - ou deliberadamente inconcluso – da obra, indicando algumas divergências entre os estudiosos de Bacon que se debruçaram sobre o problema, e argumentando que, acima da atitude aparentemente conservadora do autor em relação ao governo patriarcal, seu silêncio, ao mesmo tempo, evidencia (A) sua consciência de que uma transformação política e social é inevitável após o estabelecimento de seu programa de reforma científica, assim como (B) sua consciência de ser incapaz, dadas as circunstâncias históricas em que vive, de fornecer uma descrição completa do mundo sob as regras de um empreendimento científico. Assim, a segunda parte do artigo compreende a leitura da cerimônia da Festa da Família, não como uma descrição idealizada da sociedade bensalemita, mas como uma representação satírica das instituições políticas e sociais inglesas do tempo do autor.