FANATISMO, DE RAIMUNDO FAGNER E FLORBELA ESPANCA, NOS INTERSTÍCIOS DA CANÇÃO POPULAR BRASILEIRA
Resumo
As palavras, quando organizadas dentro de um poema, possuem uma característica intrínseca: a musicalidade. Partindo desse princípio, muitos artistas, sedentos de novos experimentalismos estéticos e com visões vanguardistas, trabalharam os versos de modo a torná-los conhecidos de uma forma mais rápida pelo grande público e, para tanto, fizeram uso de uma linguagem universal: a música. O cantor cearense Raimundo Fagner soube trabalhar essa premissa de modo peculiar e deu vida nova ao poema Fanatismo, mais de 50 anos após a morte de sua autora, a poeta portuguesa Florbela Espanca. Através de um hibridismo cultural que amalgamou idiomas, ritmos, gêneros musicais e experiências de vida, Fagner transforma o referido poema em uma das canções mais populares do Brasil e se torna um dos artistas mais conhecidos da América Latina. O objetivo deste artigo foi estudar as origens dessa obra musical e como o cantor conseguiu transmitir para a voz – protagonista per se – todo o sentimento passional do eulírico. Para tanto, foi realizada uma contextualização histórica, a escansão do poema e a análise dos elementos vocais e instrumentais, a fim de encontrar os pontos de contato e de diferenciação dessa produção, que une erudito e popular, extremamente importante para a música brasileira.