NARRATIVAS EM CONFRONTO: TAUNAY E A ESCRITA DA MEMÓRIA
Resumo
Neste artigo trago algumas reflexões sobre as narrativas que compõem a obra A cidade do ouro e das ruínas (1891) de Alfredo D’Escragnolle Taunay (Visconde de Taunay). Misto de documentos, cartas íntimas e depoimentos oficiais e de populares, a narrativa resulta num discurso dialético perpassado pelo trabalho da memória, ou seja, a memória da guerra, das impressões e sensações sobre a natureza, transformadas em matéria de ficção. Numa cidade cujas origens estão na gênese de Mato Grosso, a ligação entre memória e identidades (POLLACK, 1992) constitui o entrelugar do discurso (SANTIAGO, 1982) cujo aparato de composição reconstrói um passado singular na forma como foi inventado (BENATTI, 2000) no século XIX.
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