VIOLEIROS CEGOS: TIRÉSIAS NAS CERIMÔNIAS DO ESQUECIMENTO
Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar duas personagens cegas – Manuel das Velhas e Manuel dos Velhos – do romance Cerimônias do Esquecimento, de Ricardo Guilherme Dicke, fazendo uma analogia com os poetas cegos gregos, a partir da teoria de Paul Zumthor a respeito da voz poética e da produção da memória coletiva, para tratar da relação entre adivinho e comunidade, do simbolismo da cegueira e da função do adivinho como regulador social dos valores e tradições de um grupo. Primeiramente, faz-se uma abordagem acerca da produção da memória como processo seletivo. Num segundo momento, realiza-se a analogia, identificando como o autor do romance elabora as suas personagens em consonância com a tradição dos adivinhos cegos e, por fim, identifica-se qual é o grupo específico a que os adivinhos do romance se dirigem, que são essencialmente os marginalizados da sociedade capitalista.