O FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO: UMA ANÁLISE DE “PAI-RAIOL – O FEITICEIRO”, DE JOAQUIM MANUEL DE MACEDO
Resumo
O presente trabalho traz uma análise da novela Pai Raiol – o feiticeiro, a segunda das três que compõem a obra As Vítimas-Algozes: quadros da escravidão (1869), de Joaquim Manuel de Macedo, tendo por base metodológica a crítica dialética, que considera o contexto histórico-literário de produção da obra.
Dado o contexto em que a obra foi escrita, economia centrada no trabalho compulsório, fez-se necessário discorrer sobre a representação do negro pela literatura enquanto objeto estético, cujo padrão, segundo David Brookshaw (1983), pode ser resumido em escravo fiel, nobre, demoníaco e imoral. No caso
da obra em tela, o perfil adotado pelo autor centrou-se no escravo demoníaco, modelo que primava pelo desmantelamento da ordem social. Ao descrever os escravos por esse viés, o narrador intenta, por meio de exemplos, propor a emancipação dos cativos, partindo da necessidade e interesse dos senhores.
Entretanto, a análise do personagem alvo, Pai-Raiol revelou-nos a contradição do posicionamento ideológico empreendido pelo narrador. Como parte dos argumentos favoráveis à emancipação dos escravos, o narrador empenhou-se em iluminar a faceta maléfica, vingativa e perigosa do escravo, o que acabou fazendo com que estes elementos desabonadores em relação ao negro se
sobressaíssem à sua “boa intenção”.