Os Reis: mito e história no teatro político cortazariano.
Resumo
Esta dissertação desenvolve um estudo sobre a peça teatral Os reis (1947), de Julio Cortázar, sob a perspectiva do mito e da história, como duas potências reveladoras de substrato político, social e existencial de momentos decisivos da dramaturgia argentina, em uma época de efervescência ideológica e reorganização cultural. Nesta direção, a investigação conduz-se pela prática da aproximação entre literatura e sociedade, arte e representação social, atingindo,
inevitavelmente, o caráter engajado do teatro cortazariano, bem como as práticas militantes desse notável dramaturgo em língua espanhola. Dos aspectos biográficos de Cortázar, o estudo discute, fundamentalmente, a renovação teatral argentina, tomando como bases teóricas e críticas as correntes estéticas desenvolvidas por Szondi (2001), Carlson (1997), Magaldi (2001) e Oviedo (2001), autores que apresentam importantes indicações sobre o teatro e sua
evolução ao longo dos séculos. Portanto, a peça Os reis será analisada à luz da poética teatral política, a fim de apontar, no teatro cortazariano, os impactos que as construções míticas e históricas produziram no século XX, diante dos abalos sísmicos promovidos pelas transformações socioculturais daquele período histórico. Desse modo, o mito, o herói e o labirinto, plasmado pelo texto como metáfora de uma nova era, podem sinalizar para o fato de que a dramaturgia argentina seguiu no lastro da construção de um texto cênico que pudesse levar aos palcos projetos sociológicos e filosóficos, questões típicas de um teatro voltado à conscientização das classes que discutia, naquele cenário, os problemas vigentes.