Edição Atual
Artigos
NORMAS PARA SUBMISSÃO
Conheça nossas diretrizes para os autores
Apresentação
O Curso de Medicina da UNEMAT foi criado em 2012. É o terceiro implantado em Mato Grosso. A proposta de sua criação foi aprovada pelo CONSUNI (Conselho Universitário) em 15/07/2011, num contexto em que havia apenas um único curso de medicina em IES pública na região, localizado na capital, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O percurso da recente história de implantação do Curso de Medicina na UNEMAT registra o intenso interesse da população e empenho institucional de seus gestores.
A criação do Periódico Revista Ciência e Estudos Acadêmicos de Medicina da UNEMAT deu-se pela necessidade de estimular a produção científica dos docentes e discentes do curso de Medicina da UNEMAT, proporcionando um espaço para publicação de trabalhos acadêmicos e divulgação do conhecimento na área.
O Curso de Medicina, além de formar alunos de graduação, qualifica também alunos em fase na Residência Médica. Neste sentido, a disponibilização de espaço para divulgação de trabalhos será fundamental para dar visibilidade à qualidade da produção acadêmica da Faculdade de Ciências da Saúde da UNEMAT, tanto em nível da graduação quanto na fase da Residência Médica.
Objetivos
Espera-se, com esta iniciativa, fortalecer o Curso de Medicina, por meio da qualificação das ações de ensino, pesquisa e extensão, fornecendo espaço para publicações dos trabalhos selecionados por comissão científica responsável por cada número. O periódico propõe constituir-se como lugar de construção do conhecimento científico e o fomento de ações que consolidem o Curso de Medicina da UNEMAT.
A criação e a institucionalização do periódico Revista Científica e Estudos Acadêmicos do Curso de Medicina, fornecerá espaço próprio para a publicação de artigos, relatos de experiências e estudos com a finalidade de divulgar a Metodologia de Ensino adotada pela Matriz Curricular do Curso de Medicina da UNEMAT, o PBL – Problem Based Learning (Aprendizado baseado em problemas).
A criação de um espaço de difusão virtual na web, além de propiciar o intercâmbio com outras Instituições de Educação Superior brasileiras e estrangeiras, da área da Medicina, estabelecendo diálogos científicos em rede, possibilita a mais ampla inserção dos alunos e docentes propiciando a comunicação entre os pares da comunidade científica.
Esta versão eletrônica, inevitavelmente, fará deste periódico um veículo de produção científica de um grande número de docentes e discentes de IES nacionais e estrangeiras.
A Comissão Editorial
Rede Sociais
Conheça o nosso Facebook: www.facebook.com/revistamedicina
Acesse o Twitter: https://twitter.com/medicinaunemat
A Medicina e o Brasil
A minha querida Professora Doutora Elisabeth Battista é credora da minha maior admiração: em dois ou três anos de trabalho insano criou-nos em Lisboa, na minha Fundação, o Acervo Literário de Maria Archer (ALMA) e com essa belíssima obra de mais de setecentas páginas conquistou-me para sempre!
Pede-me agora para integrar o Conselho Científico da Revista Ciência e Estudos Acadêmicos de Medicina da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT e lhe escrever um prólogo para a Revista que vai editar. Sim, sim, sim!!! Que mais poderia eu dizer?? Só acrescentar: “mas, eu não sou digno!...”
O Brasil é para mim próprio uma constante miragem desde pequeníssimo (4 anos de idade): tudo começou talvez por eu concordar, quando me criticavam a fala vagarosa e o abuso de gerúndios, e respondia que estivera no Brasil!... Li sempre, apaixonado, as obras de Ferreira de Castro, descrevendo a aventura dos portugueses no Brasil, e depois Jorge Amado, Erico Veríssimo, Guimarães Rosa ou Josué Montello (sem esquecer a personagem Narizinho, de Monteiro Lobato).
Lisboa foi sempre para mim a cidade mais linda do mundo… até ao dia em que entrei na Guanabara: “Boca de siri”!... Lisboa perdeu o lugar cimeiro!
Pierre Duchosal, de Genéve, convidou-me para o Congresso de Cardiologia no Rio (1959) por muito apreço para com a minha Tese de Doutoramento sobre Vectocardiografia. A “brotinho” que me atendeu na inscrição abriu a boca de surpresa “Professor Pádua?? Mas… não tem barba!” (presumia ainda que os professores europeus eram todos barbudos, e eu parecia, e era, tão imberbe!). Recordo desses dias do Congresso a preocupação de nós todos ao ver o meu mentor em Harvard (1952/53) o Professor Paul Dudley White imparável a dançar, a dançar e a dançar o samba! “O cara vai morrer de exaustão” gritava um amigo.
De outra visita ao Brasil, mais tarde, cardiologista preventivo que já criara a Fundação Portuguesa de Cardiologia (e falava para todos os portugueses pela televisão, canal único, anos 70) nunca mais esqueci ter citado um lema antitabágico da Fundação da Nova Zelândia: “prova o beijo duma que não fume, e verás como é diferente!” E um colega de S. Paulo (de apelido Leão, recordo) veio dizer-me no dia seguinte “contei ao meu filho e ele disse-me: Oh Pai, não podes ser tão “soft” diz antes assim: beijo de moça que fuma tem sabor a cinzeiro!!”
Para minha grande surpresa (injustificadíssima) o Brasil que então descobri estava muito à nossa frente: já fabricava o coração – pulmão artificial para toda a América do Sul, e eu pude auscultar, em S. Paulo, o primeiro coração transplantado!
Na inauguração do 35º Congresso Português de Cardiologia, foram homenageados os 14 Presidentes Honorários da nossa Sociedade, com a publicação de um livro “A Missão” prefaciado pelo actual Presidente Professor Doutor José Silva Cardoso. As onze linhas que subscreviam a minha fotografia rezavam assim:
Fazer da cardiologia uma paixão pela prevenção
Fernando de Pádua é, por natureza e por opção, um militante da prevenção e acérrimo apaixonado pelo coração. O conhecimento sobre as doenças do coração e sua prevenção e divulgação junto do público em geral foram missões que sempre levou a bom porto enquanto cardiologista. Hoje, continua a trabalhar em prol da cardiologia preventiva e foca a sua atenção nas crianças e jovens, ensinando-os a praticar exercício físico, a fazer uma alimentação saudável e a não começar a fumar.
Na minha qualidade de Presidente Decano de todos eles tive ocasião de proferir algumas palavras a que assistiram também os colegas brasileiros presentes no Congresso.
Comecei por declarar o meu verdadeiro deslumbramento face à qualidade, exuberância, riqueza e elevadíssimo nível atingido pela Cardiologia portuguesa, com tal programa, exposições e tecnicismo, demonstrados na sua globalidade, como aliás já exaltava o actual Presidente da Sociedade Europeia de Cardiologia, e o emérito português Professor Doutor Fausto Pinto.
Todavia… a excelência de todos os testemunhos de investigação, clínica, diagnóstico e terapêutica em favor de todos os doentes – os casos mais complexos ou mais abstrusos, as terapêuticas mais difíceis ou os ADN mais hiperbólicos, recordaram-me a pergunta que um dia ouvi feita por um cirurgião pediatra: nós fazemos TUDO pelos doentes do coração: actuações terapêuticas, substâncias poderosas, tapamos buracos ou abrimos outros, trocamos ou desentupimos artérias e veias, arranjamos válvulas ou fabricamos novas, implantamos pacemakers ou transplantamos corações – tudo fazemos pelos doentes que já existem, mas por favor não nos mandem mais senão a Cardiologia acabará por gastar sozinha muito mais que metade do PIB nos nossos países.
E, pergunto eu, fazendo tudo a todos os doentes, com todo o poder alcançado, que fazemos – em Portugal, na Europa (no Brasil?) - pelos que não querem ser doentes??
Em Portugal e em todo o Mundo desenvolvido, os cardiologistas foram lideres na identificação de medidas terapêuticas não medicamentosas, realçando a importância crucial do controlo dos factores de risco, modificação de comportamentos, e bondade dos estilos de vida mais saudáveis, para prevenir a progressão das doenças… e, contudo esquecemos a evidência já bem demonstrada de que todas essas actuações, se integradas, multidisciplinares e intersectoriais (e até intergeracionais) se forem dirigidas a toda a população saudável, não só são capazes de reduzir em mais de 50% a mortalidade por acidente vascular cerebral e por enfarte do miocárdio – como se demonstrou em Portugal! – mas também beneficiam, e previnem mesmo, muitas outras doenças crónicas, como sejam vários cancros, diabetes, obesidade, hipertensão, doença pulmonar crónica, osteoporose, doenças neurológicas, oftalmológicas ou mentais (e até acidentes de toda a natureza, em terra mar e ar)!
E os cardiologistas, que em Portugal, na Europa e no resto do Mundo identificaram essas armas tão poderosas, em todos os grupos etários e em todas as populações, passam por cima dessas aparentes “ninharias”, (que os números tornam grandiosos) e esquecem facilmente ou não compreendem que é disso que a humanidade está à espera: uma cultura de saúde que reduza ao mínimo possível as doenças, ainda que as saibamos ou possamos maravilhosamente tratar!!!
Todos nós podemos ou queremos devolver a boa saúde e bem estar aos nossos doentes, mas temos de querer também informar e ajudar todos os que não querem ser - e nós queremos que nunca venham a ser - doentes!!!
Aqui e agora – meus queridos amigos, irmãos e irmãs brasileiros – expliquei-me talvez melhor, e de certeza mais demoradamente do que no Congresso! Muito obrigado pela vossa paciência em me lerem!
É que eu estou sempre pensando nos mais de 200 milhões que falam português neste Planeta! E como dizia Pessoa: “a minha Pátria é a língua portuguesa.”
F.L.D.
* Prof. Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina da Lisboa
Presidente do Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva e
Presidente da Fundação Professor Fernando de Pádua
* O Prof. Fernando de Pádua (Faro, 1927) é licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, graduado em Cardiologia pela Harvard University, em Boston, EUA, e doutorado em Medicina e Cardiologia pela Faculdade de Medicina de Lisboa. Foi presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, de que é sócio e presidente honorário, e fundou e presidiu a Fundação Portuguesa de Cardiologia. Atualmente, é o coordenador científico do projecto «Almodôvar, O Concelho Mais Saudável» (2010-2015).
Entrevistas com o autor:
http://www.clube.spm.pt/arquivo/1143
http://www.alert-online.com/br/magazine/fernando-padua-viver-para-o-coracao
Obras do autor: