O pretoguês como comunidade de prática: concordância nominal e identidade racial

Autores

  • Fernanda de Oliveira Cerqueira Universidade Federal da Bahia / Docente Substituta de Linguística

DOI:

https://doi.org/10.30681/2594.9063.2020v4n1id4644

Resumo

O presente trabalho visa demonstrar que a ausência de concordância de número em sintagmas nominais, reflete aspectos estilísticos da língua provenientes de identidade racial, como movimento emancipatório, quando produzidos no dialeto hip hop (SOUZA, 2009). Para tanto, é feita adoção da terceira onda da sociolinguística (ECKERT, 2005, 2012), a fim de identificar, em dados extraídos de músicas do gênero musical rap, que esse uso está diretamente atrelado a aspectos estilísticos decorrentes de consciência e identidade racial. Nesse sentido, assume-se que marcas linguísticas do pretoguês (GONZALEZ, 1983), no hip hop, implicam na existência de comunidades dessa prática.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Fernanda de Oliveira Cerqueira, Universidade Federal da Bahia / Docente Substituta de Linguística

Graduada em Letras Vernáculas, na modalidade Licenciatura, da UFBA. Mestre e Doutora em Língua e Cultura, pelo Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura, na linha Variação da Língua Portuguesa e Teoria da Gramática, da UFBA.  Cumpriu estágio doutoral, no Centro de Linguística, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa. Atualmente, é Professora Substituta de Linguística, no Instituto de Letras, da UFBA, e lidera, com o Prof. Dr. Danniel Carvalho, o Grupo PHINA - A sintaxe-phi das línguas naturais. Ademais, tem desenvolvido trabalhos acerca de questões raciais, sob a perspectiva do Feminismo Negro.

Referências

ABOH, E. O. Competition and selection: That’s all. In: ABOH, E. O.; SMITH, N. (Eds.). Complex Processes in New Languages. Amsterdam: Benjamins, 2009, p. 317–344.

________. The Emergence of Hybrid grammar: Language Contact, Change and Creation. Cambridge: Cambridge University Press, 2015.

________. Lessons From Neuro-(a)-Typical Brains: Universal Multilingualism, Code-Mixing, Recombination, and Executive Functions. Front. Psychol,, v. 11, 488, 2020..

ALBUQUERQUE, W. A exaltação das diferenças: racialização, cultura e cidadania brasileira (Bahia, 1880 - 1900). Tese (Doutorado em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado de Campinas, Campinas, 2004.

________. O jogo da dissimulação: Abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 247-283.

ALMEIDA, S. O que é racismo estrutural? Coleção Feminismos Plurais. Belo Horizonte: Editora Letramento, 2018.

BAXTER, A. A concordância de número. In: LUCCHESI, D; BAXTER, A.; RIBEIRO, I. O português afro-brasileiro. Salvador: EDUFBA, 2009, p. 41-74.

CARNEIRO, A. S. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

_________. Escritos de uma vida. São Paulo: Pólen Livros, 2019.

CARVALHO, D. S. A língua na diversidade: um estudo sociolinguístico de gays soteropolitanos. Projeto de Pesquisa, Salvador: DFEL – UFBA, 2014.

CARVALHO, D.; BRITO, D. (Eds.). Gênero e Língua(gem): formas e usos. Salvador: Edufba, 2020.

DAVIS, Ângela. Mulheres, Raça e Classe. Tradução de Heci Regina Candiani. São Paulo: Boitempo, 2016.

ECKERT, P. Linguistic Variation as social practice. Oxford: Blackwell, 2000.

________. Style and social meaning. In: ECKERT, P.; RICKFORD, J. Style and sociolinguistic variation. Cambridge: Cambridge University Press, 2001, p. 119-126.

________. Variation, convention and social meaning, Paper Presented at the Annual Meeting of the Linguistic Society of America. Oakland CA, Jan. 2005.

________. Communities of Practice, In: BROWN, K.; ANDERSON, A. H. (Eds.). Encyclopedia of Language and Linguistics, Elsevier: Oxford, 2006, v. 2, p. 683-685.

GONZALEZ, L. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, ANPOCS, 1983, p. 223-244.

_______. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 92-93, 1988, p. 69-82.

GUY, G. As comunidades de fala: fronteiras internas e externas. In: II Congresso Internacional da ABRALIN, Fortaleza. Anais, 2001.

HALL, S. A identidade em questão. In: HALL, S. A identidade cultural na pós modernidade. Rio de Janeiro: DP&A editora, 1992, p.7-13.

HOOKS, B. Linguagem: ensinar novas paisagens/novas linguagens. In: Estudos Feministas, v.16(3), 2008.

LOPES, N. O mecanismo da variação da concordância no Português: observações quanto a marcas nos verbos e nos nomes. Estudos da Língua(gem). Vitória da Conquista, v. 13, n.2, 2015, p. 59-72.

LUCCHESI, D.; BAXTER, A.; RIBEIRO, I. O português afro-brasileiro. Salvador: EDUFBA, 2009.

________. A transmissão linguística irregular. In: LUCCHESI, D; BAXTER, A.; RIBEIRO, I. O português afro-brasileiro. Salvador: EDUFBA, 2009b, p. 41-74.

________. Língua e sociedades partidas: a polarização sociolinguística do Brasil. São Paulo: Contexto, 2015.

MBEMBE, A. Necropolítica. São Paulo: N-1 edições, 2018.

MUFWENE, S. S. The founder principle in creole genesis. Diachronica, 13:1, 1996, p. 83–134.

_______. Language birth and death. Annual Review of Anthropology, 33, 2004, p. 201-222.

_______. Language evolution: Contact, competition and change. London: Continuum Press, 2008.

_______. Ecologia da língua: algumas perspectivas evolutivas. Ecolinguística: Revista Brasileira de Ecologia e Linguagem, v. 02, n. 01, 2016, p. 21-38.

SOUZA, A. L. S. Letramentos reexistência: culturas e identidades no movimento hip hop. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade do Estado de Campinas, Campinas, 2009.

_________. Letramentos de resistência: poesia, grafite, música, dança. São Paulo: Parábola, 2011.

NASCIMENTO, A. Democracia racial: mito ou realidade? 1977.

_______. O genocídio do negro brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

NASCIMENTO, G. Racismo Linguístico: os subterrâneos da linguagem e do racismo. Belo Horizonte: Letramento, 2019.

KILOMBA, G. Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano. Trad. Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2019.

SANTOS, Milton. Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.

SMITHERMAN, G. African-American English: From The Hood to the Amen Corner, Speaker Series, n 5, 1996.

Publicado

2020-09-21

Como Citar

Cerqueira, F. de O. (2020). O pretoguês como comunidade de prática: concordância nominal e identidade racial. Traços De Linguagem - Revista De Estudos Linguísticos, 4(1). https://doi.org/10.30681/2594.9063.2020v4n1id4644