Fica empoderada lá na cozinha: metapragmáticas misóginas no league of legends

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30681/2594.9063.2022v6n1id11651

Palavras-chave:

League of Legends, (Im)polidez, Misoginia em jogos on-line, Violência linguístico-discursiva, Metapragmáticas

Resumo

Com este estudo, almejamos analisar a interação estabelecida por jogadores/as de League of Legends em uma partida, a fim de darmos visibilidade a recursos linguísticos-discursivos – explícitos e implícitos – usados em ofensas dirigidas a mulheres, que colaboram para a configuração de um cenário hostil no próprio jogo e impactam negativamente no dia a dia de jogadoras que sofrem – simbólica, linguística e discursivamente – misoginia. O estudo, inscrito no domínio da Sociolinguística Interacional e da Pragmática, articulou a teoria da (im)polidez e a noção de metapragmáticas no debate relativo à violência linguístico-discursiva no jogo. Por meio de uma abordagem qualitativa e (n)etnográfica, selecionamos uma interação com alta densidade de metapragmáticas misóginas para ser analisada à luz do conjunto teórico empreendido neste trabalho. A análise não só revelou danos à face positiva da Jogadora 2, mas, principalmente, evidenciou, em latente disputa discursiva, a emergência de metapragmáticas machistas, misóginas, sexistas, deslegitimadoras, desvalorizadoras, tóxicas, masculinistas, patriarcais, capacitistas e silenciadoras, sob disfarce hegemônico de brincadeira. Salientamos, por fim, a necessidade de medidas educativas e jurídicas eficazes no combate a violências de qualquer ordem em jogos on-line. 

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Rodrigo Albuquerque, Universidade de Brasília

    É professor adjunto III no Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP) da Universidade de Brasília, credenciado ao Programa de Pós-graduação em Linguística (PPGL). Atual, especialmente, nas áreas da Sociolinguística Interacional, da Pragmática e da Linguística de Texto no âmbito do ensino de Português Brasileiro como Primeira Língua e como Língua Adicional. Sobre a formação acadêmica, é doutor em Linguística pela Universidade de Brasília; mestre em Linguística pela mesma universidade e graduado em Letras Português do Brasil como Segunda Língua também pela UnB.

  • Tauane Matos, Universidade de Brasília

    Cursa Letras - Inglês, licenciatura, na Universidade de Brasília. Está estagiando na Casa Thomas Jefferson, onde atua como "Aide". Foi monitora voluntária no Centro Interescolar de Línguas de Taguatinga, dando aulas particulares para os alunos que não conseguiam absorver bem o conteúdo dado em sala. Atualmente pesquisa na área de linguística, interligando-a com jogos online e e-sports.

Referências

AGUIAR, R. Q.; PELÁ, M. C. H. Misoginia e violência de gênero: origem, fatores e cotidiano. Revista Sapiência, v. 9, n. 3, p. 68-84, 2020.

ALAMBERT, Z. Feminismo. O ponto de vista marxista. São Paulo: Nobel, 1986.

ARAÚJO, G. P. C. Jogo é coisa de menino: A discriminação em League of Legends. In: PARODE, F. P.; JERÔNIMO, F. R. M.; ZAPATA, M. (Orgs.). Semiótica da Diversidade: devires minoritários e linhas de fuga. Porto Alegre: Editora Fi, 2019. p. 215-228.

ARUNDALE, R. B. Face as relational and interactional: A communication framework for research on face, facework and politeness. Journal of Politeness Research, v. 2, n. 2, p. 193-216, 2006.

AUSTIN, J. L. How to do things with words. Oxford: Oxford University Press, 1975 [1962].

BARGIELA-CHIAPPINI, F. Facing the future: Some reflections. In: BARGIELA-CHIAPPINI, F.; HAUGH, M. (Eds.). Face, Communication and Social Interaction. London: Equinox, 2009. p. 306-325.

BEAUVOIR, S. O segundo sexo. 4. ed. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1970.

BLITVICH, P. G-C.; SIFIANOU, M. Im/politeness and discursive pragmatics. Journal of Pragmatics, v. 145, p. 91-101, 2019.

BOUSFIELD, D. Impoliteness in Interaction. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2008.

BROWN, P.; LEVINSON, S. Politeness: some universals in language usage. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.

CASSELL, J.; JENKINS, H. Chess for Girls?: Feminism and Computer Games. In: CASSELL, J.; JENKINS, H. (Eds.). From Barbie to Mortal Kombat: Gender and Computer Games. Cambridge, MA: Mit Press. 1998. p. 2-45.

CHANDLER, A. Gamers speak: Analyzing masculine speech in gaming culture. CLA Journal, v. 7, n. 1, p. 11-34, 2019.

CULPEPER, J. Towards an anatomy of impoliteness. Journal of Pragmatics, v. 25, p. 349-67, 1996.

CULPEPER, J. Impoliteness: Using Language to Cause Offence. Cambridge: Cambridge University Press, 2011a.

CULPEPER, J. Politeness and impoliteness. In: AJIMER, K.; ANDERSEN, G. (Eds.). Pragmatics of Society. Berlin: Mouton de Gruyter, 2011b. p. 393-438.

EELEN, G. A Critique of Politeness Theories. Manchester: St. Jerome, 2001.

FALCÃO, T.; MACEDO, T.; KURTZ, G. Conservadorismo e masculinidade tóxica na cultura gamer: Uma aproximação a Magic: The Gatering. MATRIZes, v. 15, n. 2, p. 251-277, 2021.

FARIA, C. M. Mulheres nas partidas de League of Legends: como elas precisam se comportar para fazer parte da comunidade do jogo. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2019, p. 1-13.

GOFFMAN, E. Interaction Ritual: essays on face-to-face behavior. UK: Penguin University Books, 1967.

GRAINGER, K. ‘First order’ and ‘second order’ politeness: Institutional and intercultural contexts. In: LINGUISTIC POLITENESS RESEARCH GROUP (Org.). Discursive approaches to politeness. Walter de Gruyter: Berlin/Boston, 2011. p. 167-188.

HAUGH, M. The discursive challenge to politeness research: An interactional alternative. Journal of Politeness Research, v. 3, n. 2, p. 295-317, 2007.

HAUGH, M.; CULPEPER, J. Integrative pragmatics and (im)politeness theory. In: ILIE, C.; NORRICK, N. R. (Eds.). Pragmatics and its Interfaces. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2018. p. 213-239.

KÁDÁR, D. Z.; HAUGH, M. Understanding Politeness. UK: Cambridge University Press, 2013.

KIM, S. J. Gender Inequality in eSports Participation: Examining League of Legends. 2017. 89f. Dissertation (Master of Science in Kinesiology) – Faculty of the Graduate School, University of Texas, Austin, 2017.

KOU, Y. Toxic Behaviors in Team-Based Competitive Gaming: The Case of League of Legends. Proceedings of the Annual Symposium on Computer-Human Interaction in Play (CHI PLAY’20). ACM, New York, NY, USA, 2020.

KOZINETS, R. V. Netnografia: realizando pesquisa etnográfica online. Tradução de Daniel Bueno. Porto Alegre: Penso, 2014.

KRAMBECK, R. S. Santas, Sexys e Fatais: Um Mapeamento das Construções de Sentido sobre as Mulheres em Jogos de Luta. V GAMEPAD – Seminário de Games, Comunicação e Tecnologia, p. 119-129, 2012. Disponível em: http://aplicweb.feevale.br/site/files/documentos/pdf/56687.pdf. Acesso em 23 out 2021.

LAKOFF, R. T. The logic of politeness; or, minding your p’s and q’s. In: CORUM, C. et al. (Eds.). Papers from the Ninth Regional Meeting of the Chicago Linguistic Society, p. 292-305, 1973.

LEECH, G. Principles of Pragmatics. London: Longman, 1983.

LEECH, G. N. The Pragmatics of Politeness. Oxford: Oxford University Press, 2014.

MASON, J. Qualitative Researching. 2nd ed. London, Thousand Oaks & New Delhi: SAGE, 2002.

MCWHERTOR, M. The League of Legends team of scientists trying to cure ‘toxic behavior’ online. Polygon, 2012. Disponível em: http://www.polygon.com/2012/10/17/3515178/the-league-of-legends-team-of-scientiststrying-to-cure-toxic. Acesso em 23 out 2021.

MEDRADO, A. M. L.; MENDES, A. A. M. O silêncio não é a melhor arma: misoginia e violência contra mulheres no game League of Legends. Revista Interamericana de Comunicação Midiática, v. 19, n. 39, p. 143-165, 2020.

MENTI, D. C.; ARAÚJO, D. C. Violência de gênero contra mulheres no cenário dos esports. Conexão – Comunicação e Cultura, v. 16, n. 31, p. 73-88, 2017.

MILLS, S. Gender and Politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

MOTERANI, G. M. B.; CARVALHO, F. M. Misoginia: a violência contra a mulher numa visão histórica e psicanalítica. Avesso do avesso, v. 14, n. 14, p. 167-178, 2016.

NIGRO, I. S.; BARACAT, J. Masculinidade: preciosa como diamante, frágil como cristal. Revista Científica Eletrônica de Psicologia, v. 30, n. 1, p. 4-19, 2018.

PEREIRA, M. J.; GAMAS, L. C. Redes sociais, masculinidade hegemônica e violência: o machismo como elemento (des)civilizacional no Brasil. Perspectivas em diálogo, v. 8, n. 17, p. 215-234, 2021.

PINTO, J. P. É só mimimi? Disputas metapragmáticas em espaços públicos online. Interdisciplinar, v. 31, p. 221-236, 2019.

RATAN, R. A.; TAYLOR, N.; HOGAN, J.; KENNEDY, T.; WILLIAMS, D. Stand by your man: An examination Examination of gender Gender disparity Disparity in League of Legends. Games and Culture, v. 10, n. 5, p. 438-462, 2015.

RIBEIRO, G. C. B. O sexismo nos jogos eletrônicos: Barreiras à participação feminina em League of Legends. 2019. 90f. Monografia (Bacharel em Sociologia) – Departamento de Sociologia, Universidade de Brasília, Brasília, 2019.

RIOT GAMES. League of Legends. 2021. Disponível em: http://www.riotgames.com/en/news. Acesso em: 23 out 2021.

ROSOSTOLATO, B. O homem cansado: uma breve leitura das masculinidades hegemônicas e a decadência patriarcal. Revista Brasileira de Sexualidade Humana, v. 29, n. 1, p. 57-70. 2018.

SIGNORINI, I. Metapragmáticas da língua em uso: unidades e níveis de análise. In: SIGNORINI, I. (Org.). Situar a lingua[gem]. São Paulo: Parábola, 2008. p. 117-148.

SILVERSTEIN, M. Language Structure and Linguistic Ideology. In: CLYNE, P. R.; HANKS, W. F.; HOFBAUER, C. L. (Orgs.). The Elements: a parasession on linguistic units and levels. Chicago: Chicago Linguistic Society, 1979. p. 193-247.

SOUZA, G. T. O. Mundo do videogame possui ranço machista. Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (PUCSP). Vya Estelar – UOL. 1º jan. 2016. Disponível em: https://vyaestelar.com.br/mundo-do-videogame-possui-ranco-machista/. Acesso em 23 out 2021.

TERKOURAFI, M. Beyond the micro-level in politeness research. Journal of Politeness Research, v. 1, n. 2, p. 237-262, 2005.

THOMPSON, J. B. A interação mediada na era digital. Matrizes, v. 12, n. 3, p. 17-44, 2018.

WATTS, R. J. Politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 2009 [2003].

Publicado

2022-11-15

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Fica empoderada lá na cozinha: metapragmáticas misóginas no league of legends. (2022). Traços De Linguagem - Revista De Estudos Linguísticos, 6(1). https://doi.org/10.30681/2594.9063.2022v6n1id11651

Artigos Semelhantes

1-10 de 99

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.