REPETIÇÃO, NEOVANGUARDA E INDÚSTRIA CULTURAL EM ALGUMAS NARRATIVAS BRASILEIRAS DAS DÉCADAS DE 1960 E 1970

Resumen

Este texto propõe que o uso da repetição e da variação como artifícios compositivos articula parte da narrativa ficcional brasileira das décadas de 1960 e 1970 tanto com a neovanguarda artística quanto com a produção da indústria cultural da mesma época. Parte-se da constatação da relevância da categoria da repetição para outras artes do período, bem como para a reflexão sobre as produções da indústria cultural. Em seguida, faz-se referência a três narrativas ficcionais – Panamérica, de José Agrippino de Paula, Armadilha para Lamartine, de Carlos & Carlos Sussekind (1976), e Três mulheres de três pppês, de Paulo Emilio Sales Gomes (1977) – destacando seus aspectos repetitivos, sua conexão temática com produtos culturais de grande circulação da época e seus procedimentos de composição e de configuração interna assemelhados aos de certas neovanguardas. Sugere-se que, num momento da história brasileira em que um mercado de bens culturais se consolidava e o mercado editorial se modernizava, o uso narrativo da repetição e da variação aponta para a internalização de certos aspectos do modo de produção da indústria cultural, transformados em princípio de organização interna, ao mesmo tempo em que indica um afastamento crítico em relação à figura do escritor profissional.