Nasalização vocálica na variedade oriental da língua Parakanã: retenção ou inovação?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30681/rtakaa.v3i1.13625

Palavras-chave:

Língua Parakanã. , Vogais Nasais. , Família Tupí-Guaraní. , Linguística Histórica.

Resumo

Neste estudo, investigamos a presença de vogais nasais em sílabas finais na variedade Oriental da Língua Parakanã, pertencente ao sub-ramo IV da família linguística Tupí-Guaraní, do tronco Tupí (Rodrigues, 1984-1985; Rodrigues e Cabral, 2002). Essa variedade é falada exclusivamente pelos residentes da Terra Indígena Parakanã, localizada nos municípios de Novo Repartimento e Itupiranga, no sudeste do Pará. A presença de vogais nasais nessa variedade ainda não havia sido identificada em pesquisas anteriores (Monserrat, 1990; Pimentel, 1991; Silva, 1999). Discutimos, aqui, as hipóteses sobre a presença de vogais nasais na variedade Parakanã em pauta, seguindo procedimentos metodológicos do Método Histórico Comparativo (Campbell, 2013; Kaufman, 1990; e Hock, 1991), assim como lançando mão de informações históricas sobre as rotas migratórias dos Parakanã antes do contato oficial com a Fundação dos Povos Indígenas -FUNAI. As hipóteses são: 1) a nasalidade vocálica em discussão é uma retenção de uma época em que a língua Parakanã ainda não havia perdido a nasalidade vocálica; 2) a nasalidade ora identificada resulta da proximidade das vogais ao final de palavra ou silêncio (Rodrigues, 2003); e 3) a nasalidade em pauta define-se como inovação, ou interna à língua ou motivada por contato com outros povos Tupí-Guaraní, como por exemplo o Araweté e o Anambé (Thomason, 2007). Os resultados obtidos até o presente sugerem que a nasalidade de algumas vogais no Parakanã Oriental é um fenômeno recente, decorrente de influências externas, mas usadas por seus falantes como uma marca identitária. Esses achados são importantes para:1) a compreensão da diversificação interna da língua; 2) de como as línguas Tupí-Guaraní continuam mudando na atualidade; e 3) a compreensão das motivações para essas mudanças, com implicações significativas tanto para a normatização da escrita quanto para a identidade linguística dos falantes dessa variedade.

 

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Biografia do Autor

  • Dra. Ana Suelly A. C. Cabral, Universidade de Brasília

    Professora Titular da Universidade de Brasília, possui graduação em Letras pela Universidade Regional do Nordeste (1974), graduação em Artes Plásticas pela Université de Paris I (Panthéon-Sorbonne) (1978), mestrado em Letras pela Université de Paris III-Sorbonne-Nouvelle, (1976), mestrado em Estética da Arte pela Université de Paris I, Panthéon-Sorbonne (1979), Diplôme dÉtudes Aproffoundies en Linguistique Appliquée pela Université de Paris III-Sorbonne-Nouvelle (1978), Diplôme dÉtudes Aproffoundies en Esthétique Dart (1980) pela Université de Paris I, Panthéon-Sorbonne, e doutorado em Linguística pela University of Pittsburgh, PA (1995). Realizou estágio pós-doutoral em Linguística Histórica na Universidade de Brasília, sob a supervisão de Aryon DallIgna Rodrigues (2005-2007). Atuou como professora concursada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1982), foi pesquisadora na Fundação Nacional Pró-Memória (1983-1996), onde atuou como representante de projetos de educação indígena no âmbito do Projeto Interação e contribuiu com a pesquisa de programas da série Brasil Corpo e Alma coordenada pela Fundação Roberto Marinho e pela Fundação Pró-Memória. Foi professora concursada na Universidade Federal do Pará (1996-2002), onde atuou na graduação e na pós-graduação, tendo sido transferida para a Universidade de Brasília em 2002, onde atua desde então. Na UnB, foi coordenadora do Núcleo de Estudos sobre a Amazônia (NEAz) do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM-UnB) e exerceu a função de vice-diretora e diretora substituta do Instituto de Letras da mesma Universidade, onde atua na graduação e pós graduação do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas. No Instituto de Letras, atua também na qualidade de coordenadora do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas (LALLI) e como editora da Revista Brasileira de Linguística Antropológica. Orientou, até o presente, 21 teses de doutorado, coorientou duas outras e orientou 40 dissertações de mestrado. Foi primeira secretária da Abralin (2001-2003) e coordenadora do Grupo de Trabalho de Línguas Indígenas da ANPOLL. Tem experiência na área da Linguística, com ênfase em Línguas Indígenas, atuando principalmente nos seguintes temas: Documentação e descrição de línguas indígenas, linguística histórica, contato linguístico, dicionarização e dialetação de Línguas Indígenas, ensino de línguas Indígenas e formação de professores pesquisadores indígenas de línguas indígenas. Dedica-se principalmente aos estudos de línguas do tronco linguístico Tupí, do tronco linguístico Macro-Jê, de línguas da família Aruák, e da língua Kokáma.

  • Ma. Quélvia Souza Tavares, Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Campus Rural de Marabá.

    Possui graduação em L. LETRAS COM HABILITAÇÃO EM L. ESPANHOL pela FACULDADE CENECISTA DE SENHOR DO BONFIM (2014) e graduação em Letras com Habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pará (2010). É Mestre em Educação e Cultura pela Universidade Federal do Pará (2020). Doutoranda em Linguística pela Universidade de Brasília. Professora de Português/Espanhol no Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Campus Rural de Marabá.

  • Dra. Maria Cristina Macedo Alencar, Universidade Federal do Sul eSudeste do Pará

    Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC (2018).  Graduada em Letras pela Universidade Federal do Pará – UFPA (2008) e em Psicologia pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará-Unifesspa (2023). Docente Adjunta da Faculdade de Educação do Campo (FECAMPO/ICH/Unifesspa), atuando no Mestrado Profissional em Letras (Profletras). Desenvolve pesquisas sobre educação bi/multilíngue, políticas linguísticas, Educação Escolar Indígena e Educação para as Relações Étnico-Raciais.  Email: maria.alencar@unifesspa.edu.br   

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Publicado

2025-04-24

Como Citar

Arruda Câmara Cabral, A. S., Souza Tavares, Q. ., & Macedo Alencar, M. C. (2025). Nasalização vocálica na variedade oriental da língua Parakanã: retenção ou inovação?. Revista Taka’a, 3(1), e2025005. https://doi.org/10.30681/rtakaa.v3i1.13625