Entre saberes ancestrais e vozes femininas: diálogos interétnicos e resistências da AMISM na Manaus urbana
DOI:
https://doi.org/10.30681/rtakaa.v1i.13954Palavras-chave:
Agência feminina, Ancestralidade, Etnicidade indígena, Migração urbana, Resistência culturalResumo
A pesquisa analisa a atuação da Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AMISM) na cidade de Manaus, com foco nas práticas de resistência cultural protagonizadas por mulheres indígenas em contexto urbano. Investiga-se como a AMISM articula ancestralidade, etnicidade e gênero como eixos interdependentes de produção territorial e política, diante das dinâmicas excludentes do espaço urbano. O estudo objetiva compreender as estratégias utilizadas pelas associadas para reafirmar suas identidades, reterritorializar cosmologias e disputar narrativas sobre pertencimento e cidadania. A investigação adota abordagem qualitativa de base etnográfica, articulando observação participante, entrevistas semiestruturadas, análise documental e revisão bibliográfica. O material empírico é tratado à luz de categorias analíticas vinculadas à antropologia aplicada, aos estudos interseccionais e às epistemologias indígenas. As práticas observadas revelam que a cidade não opera como espaço de ruptura, mas como território de reexistência simbólica, onde o corpo, a palavra e a memória se inscrevem como tecnologias políticas. A associação atua como dispositivo cosmopolítico de escuta, acolhimento e produção de visibilidade, organizando redes de solidariedade que sustentam a presença indígena na urbanidade. O protagonismo das mulheres Sateré-Mawé evidencia que a resistência não se dá apenas por meio do enfrentamento institucional, mas também pelas práticas cotidianas que articulam saber tradicional e ação política. A pesquisa conclui que a AMISM desempenha papel fundamental na formulação de uma cidadania indígena urbana, em que ancestralidade, cuidado e agência feminina se entrelaçam como forças constituintes de novos modos de habitar a cidade.
Downloads
Referências
ALBERT, Bruce & RAMOS, Alcida Rita (Org.). Pacificando o branco. Cosmologias do contato norte-amazônico. São Paulo. Editora UNESP. 2002.
ALVAREZ, Gabriel O. Sateteria: Tradição e Política Sateré-Mawé. Manaus. Editora Valer - CAPES/ Prodoc. 2009.
BERNAL, Roberto Jaramillo. Índios Urbanos: Processo de Reconformação das Identidades Étnicas Indígenas em Manaus. Manaus, EDUA. 2009.
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Urbanização e tribalismo: a integração dos índios Terena numa sociedade de classes. Rio de Janeiro: Editora do Museu Nacional. 1968.
CHERNELA, Janet. Directions of Existence: Indigenous Women Domestics in the Paris of the Tropics. In: The Journal of Latin American and Caribbean Anthropology, Vol. 20, No. 1, pp. 201–229. 2015.
GELL, Alfred. Art and agency: an anthropological theory. Oxford: Clarendon. 1998.
INGOLD, Tim. The Perception of the Environment. Essays on lilihood, dwelling and skill. London & New York: Routledge. 2000.
KAPFHAMMER, Wolfgang. Do 'sateré puro' (Sateré sese) ao 'novo sateré' (Sateré pakup): mitopráxis no movimento evangélico entre os Sateré-Mawé. In: WRIGHT, Robin (Org.). Transformando os deuses: igrejas evangélicas, pentecostais e neopentecostais entre os povos indígenas no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp. p.101-140. 2004.
LASMAR, Cristiane. De volta ao Lago de Leite: Gênero e transformação no Alto Rio Negro. São Paulo: Editora UNESP/ISA; Rio deconsolida: NUTI. 2005.
LEACOCK, S. Economic and social factors in Mawe persistence. Berkeley, University of California, Ph. D. dissertation. 1968.
LORENZ, Sônia da Silva. Sateré-Mawé: os filhos do guaraná. São Paulo: Publicação do Centro de Trabalho Indigenista. 1992.
NIMUENDAJÚ, Curt. The Maué and Arapium. In: STEWARD, Julian H. (org.). Handbook of South American Indians. vol. 3.. p. 245-254, Washington: United States Government Printing Office. 1948.
NUNES, Eduardo S. “Aldeias urbanas ou cidades indígenas? Reflexões sobre índios e cidades”. In: Espaço Ameríndio, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 9-30, jan./jun. 2010.
PEREIRA, Nunes. Ensaio de etnologia amazônica sobre uma peça etnográfica dos Maué. Cadernos Terra Imatura, Belém. 1940.
SERTÃ, Ana Luisa A. M. Fazendo colares, tecendo redes: mulheres indígenas na cidade de Manaus. (Relatório de Iniciação Científica) São Paulo: USP. 2011.
SILVA, Clodoaldo Matias da; SILVA, Karla Emília Furtado e; SOARES, Sandra Luana; ALMEIDA, Janderson Gustavo Soares. Dialogue of knowledges: the importance of the partnership between scientists and indigenous peoples for the preservation of traditional knowledge. Delos: Desarrollo Local Sostenible, v. 17, p. 1-10, 2024.
TEIXEIRA, Pery; MAINBOURG, Evelyne; BRASIL, Marília. Migração do povo indígena Sateré-Mawé em dois contextos distintos na Amazônia. Caderno CRH, vol. 22, nº 57, Salvador. 2009.
TEIXEIRA, Pery; MAINBOURG, Evelyne; BRASIL, Marília. (Org.) Sateré-Mawé: retrato de um povo indígena. Manaus: UNICEF/FNUAP. 2005.
UGGÉ, Enrique. Mitologia Sateré-Maué. Quito/Roma. Ed. Abya-Yala/ Mov. Laico para América Latina. 1991.
UGGÉ, Enrique. As bonitas histórias Sateré-Maué. Manaus: Secretaria da Educação e Cultura do Amazonas. 1993.





