A representação do não indígena nos mitos Parahiteri
DOI:
https://doi.org/10.30681/rtakaa.v3i1.14207Palavras-chave:
Yanomami, Contato interétnico, Resistência cultural, Narrativas IndígenasResumo
Este artigo analisa narrativas míticas do grupo Yanomami Parahiteri, com foco em como o contato interétnico é incorporado e ressignificado no corpo das histórias. Partindo de uma abordagem qualitativa e bibliográfica, a pesquisa examina treze mitos registrados em publicações bilíngues de autoria indígena, identificando a presença de objetos, práticas e personagens exógenos, como ferramentas, doenças e a figura do napë. A análise demonstra que tais inserções não descaracterizam a cosmogonia Parahiteri, mas a fortalecem, permitindo que os narradores elaborem críticas à violência, às enfermidades e ao modo de vida não indígena. Ao transformar o contato em matéria mítica, os Parahiteri reafirmam o mito como espaço de memória, resistência simbólica e atualização cultural. Torna-se nítido, portanto, que essas narrativas revelam tanto a vitalidade da tradição oral indígena quanto sua função política na reafirmação identitária frente às pressões externas.
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