A representação do não indígena nos mitos Parahiteri

Autores

DOI:

https://doi.org/10.30681/rtakaa.v3i1.14207

Palavras-chave:

Yanomami, Contato interétnico, Resistência cultural, Narrativas Indígenas

Resumo

Este artigo analisa narrativas míticas do grupo Yanomami Parahiteri, com foco em como o contato interétnico é incorporado e ressignificado no corpo das histórias. Partindo de uma abordagem qualitativa e bibliográfica, a pesquisa examina treze mitos registrados em publicações bilíngues de autoria indígena, identificando a presença de objetos, práticas e personagens exógenos, como ferramentas, doenças e a figura do napë. A análise demonstra que tais inserções não descaracterizam a cosmogonia Parahiteri, mas a fortalecem, permitindo que os narradores elaborem críticas à violência, às enfermidades e ao modo de vida não indígena. Ao transformar o contato em matéria mítica, os Parahiteri reafirmam o mito como espaço de memória, resistência simbólica e atualização cultural. Torna-se nítido, portanto, que essas narrativas revelam tanto a vitalidade da tradição oral indígena quanto sua função política na reafirmação identitária frente às pressões externas.

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Biografia do Autor

  • Enira Roberth Maia de Castro Lima, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

    Graduada em Letras, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em 2017.  Mestre em Letras, Cultura, Educação e Linguagens pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, pertencente ao grupo de pesquisa "As Letras nas Conquistas e a Literatura Brasileira".

  • Ricardo Martins Valle, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

    Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1998), Mestrado (2004) e Doutorado (2010), em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (2004), sob a orientação do Prof. Dr. João Adolfo Hansen. Desde novembro de 2005, é professor na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da Conquista, atuando nos cursos de graduação e mestrado. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em História Literária, História Colonial, Letras do Antigo Regime, Literatura Brasileira, Literatura e História Indígena, considerando principalmente os seguinte campos-tema: literatura luso-brasileira, letras coloniais, práticas de representação nos séculos XVI, XVII e XVIII; retórica, poética, direito natural, direito das nações, política monárquica, filosofia e teologia-política; literatura brasileira (séculos XIX e XX), historiografia e historiografia literária; literatura indígena, guerras índias, direitos indígenas; genocídio linguístico, etnocídio e educação. Entre 2012 e 2018, conduziu um projeto de educação indígena junto às comunidades Yanomami do Rio Marauiá, em parceria com a indigenista Profa. Anne Ballester Soares. Desde 2015, integra o Programa de Pós-graduação em Letras: Cultura, Educação e Linguagens-PPGCEL, UESB, orientando trabalhos em literatura brasileira e narrativas indígenas. Entre 2012 e 2018, coordenou o Programa de Extensão Continuada Laboratório de Difusão de Repertórios: Educação Multidisciplinar - DELL, por meio do qual promove trocas de saberes junto às comunidades yanomami do Rio Marauiá, em Santa Isabel do Rio Negro, Amazonas, e busca ampliar redes de contato e de troca multilateral de conhecimento com os Tupinambá, do Território Indígena de Olivença e Serra do Padeiro.

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Publicado

2025-10-18

Como Citar

Roberth Maia de Castro Lima, E., & Valle, R. M. . (2025). A representação do não indígena nos mitos Parahiteri. Revista Taka’a, 3(1), e2025009. https://doi.org/10.30681/rtakaa.v3i1.14207