Começar-se no mundo: entre infâncias e linguagem
DOI:
https://doi.org/10.30681/reps.v6i3.9681Resumo
Para problematizar a concepção pedagógica da linguagem como representação de um mundo previamente dado, o ensaio discute a condição instituída cultural e socialmente do fenômeno da linguagem fixado na palavra dita ou escrita. Esta condição de privilégio nas concepções educativas ocidentais coloca os bebês e as crianças bem pequenas fora de uma “zona intelectual” considerada relevante, já que estão aprendendo a conhecer o mundo adulto das palavras. Tal processo de exclusão é evidenciado pela ampla simplificação pedagógica dos termos narrativa, imitação, ficção, lúdico, imaginação, dada pela desconsideração da experiência temporal e corporal de aprender a estar em linguagem. Na contemporaneidade, a fragmentação da linguagem em sonora, gestual, visual, oral e escrita, tende a assumir o lugar ocupado pelo ensino de conteúdos através das áreas correspondentes de conhecimento. Para encontrar outro caminho, propomos a ampliação da compreensão do fenômeno da linguagem como uma gramática do mundo pela qual aprendemos a habitar o mundo e a nós mesmos, um modo de aprender a dizer e a dizer-se, de tornar o mundo inteligível no e pelo encontro - geracional e de pares, aquele que permite compartilhar e instituir sentidos no mundo e com o mundo.
Palavras-chave: Infância; educação; linguagem; mundo.
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